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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Ático Vilas Boas da Mota

                            PREFÁCIO

Ático Vilas -Boas da Mota, homem extraordinário, deixa sempre um rastro de grandeza por onde passa. Nasceu em Livramento de Nossa Senhora. Mas é Macaúbas, cidade do sertão baiano igualmente, O " doce país de sua meninice" (como seu carinho a denomina). Depois se transferiu para Salvador, completando seus estudos básicos no Liceu Salesiano , no Colégio Estadual da Bahia e no Colégio Ipiranga, cuja atividades se desenvolviam na casa em que Castro Alves faleceu. Jorge Amado e Adonias Filho também estudaram nele.
Nesse tempo conheceu alguns refugiados romenos e começou a se interessar pelo seu idioma. Dai, á Faculdade Católica da Bahia e, por motivos de ordem financeira, á congênere da Universidade da Bahia, um pulo! Ático o efetuou com o espirito já atado á paixão pelos livros, da qual nunca se libertou .
  Não como outro salto, mas por efeito de uma bolsa, aprimorou seus conhecimentos literários em Buenos Aires. Então, assíduo Freqüentador da Biblioteca Nacional da Argentina, relacionou -se com seu diretor, Jorge Luis Barges, que quase cego, possuía um seleto grupo de leitores. O brasileiro Ático Vilas-Boas da Mota logo o integrou. Regressando ao Brasil, residiu no Rio de Janeiro para terminar o curso de línguas neolatinas. Convidou nessa época com o historiador Pedro Calmon e se ligou aos balcânicos da Casa Romena: coisa do destino....
    Também como ação dos fados se pode considerar a transferência de Ático para Goiás, precisamente para Goiânia, ou melhor, para a Univesidade Federal de Goiás, recém-criada, de onde se retirou somente quando o prazo da aposentadoria lhe fez inarredável exigência. Conversando á inatividade, Ático se devolveu a Macaúbas, em cuja tranquilidade permanece.
Dirigindo a Fundação Cultural Professor Mota, cultiva Livros, lembranças e a memória do pai.
  Durante os muitos anos de Goiânia, mestre Ático Vilas-Boas da Mota se consagrou como Líder e mecenas. Faz incontáveis alunos e um sem-número de amigos. Em discurso de posse na Academia de Letras da Bahia, em maio de 2003, confessou que sua estrada em Goiânia é inesquecível: "Colaborei na imprensa local. prefaciei livros. Apresentei artistas plásticos. Lancei obras. Proferi conferências. Participei de bancas universitárias ou literárias. Trabalhei muito. Nunca deixei o arado no meio do campo".
     Residindo em Macaúbas, Ático continua unido pessoalmente á intensa vida cultural de Goiânia e da boa assistência á literatura de outras fontes. Como essas árvores que têm as raízes num quintal e frondes se debruçando sobre o terreno vizinho.... Por outro lado, toda a produção literária de Ático denota sua invejável capacidade de adaptar-se a meios diversos. De fato: num livro, Ático é o estudioso do folclore; noutro, um crítico ; aqui é pesquisador; ali é memorialista, contista, educador; acolá se mostra poeta, tradutor, ensaísta, administrador de instituições de ensino. Todavia, é fo poeta que vou cuidar, prazeroso pela honra da incumbência.
       Este livro se chama Alpondras: travessia de Bucareste. Quando recebi os originais, sabendo que alpondras - bela palavra - são aquelas pedras que atravessam um rio, imaginei o Ático se ausentando da capital da Romênia para ir ao Danúbio, e ai, medindo o volume histórico de suas águas azuis, matar as saudades do Rio São Francisco... Enganei -me. Não há no texto um só lexema sobre o extenso caudal que banha várias nações européias. Como nosso Chico, em relação a Minas Gerais, Bahia, Pernambuco , Sergipe e Alagoas.
       Escrita em Bucareste, em 1999 e no primeiro mês do século XXI, a poesia de Ático, como timbre universal e metáforas áticas, e eminentemente verde-amarela . Dos 49 poemas de Alpondras: travessia de Bucareste, 19 foram elaborados em agosto (verão), 13 em setembro (quase outono ), 8 na plenitude outonal ( outubro e novembro) e os demais em dezembro e janeiro (inverno). No entanto , não há em nenhum deles as defendidas temperaturas do Leste Europeu. Há, sim, abundância de talento a serviço da têmpera cordial do poeta, de seu viver incomum e de suas angústias. Seu estro não busca os arrebatadores motivos de Bucareste (lagos, igrejas bizantinas, ruas, a paisagem humana).Nem mesmo os assombros da velha Europa.
     Apenas dois poemas lembram a metrópole em que Ático morou com Dona Alzira, sua esposa, e desempenhou as funções de professor de Cultura Brasileira, nomeando pelo Itamarati. Sua brilhante atuação, tanto na embaixada do Brasil como na Universidade de Bucareste, foi reconhecido pelo governo brasileiro, que, em expressiva solenidade, o iniciou na Ordem do Rio Branco ( altíssima condecoração).
     Quanto aos dois poemas, um é o pequeno e encantador "Inverno". O outro é " Hospício ".
, recordação de triste ocorrência, contada pelo poeta no momento em que sua (referida) alocução acadêmica elogia a Rua das Plantas, em Bucareste:

Vê-se, naquela rua, um casarão bem conservado, de janelas escancaradas para o infinito. Era o antigo hospital de alienados, onde Mihai Eminesceu (1850-1889), o poeta nacional, o Castro Alves romeno, vinha, de quando em vez, em busca de alívio. Eminesceu  morreu, em outro hospício, estrangulada por um companheiro de enfermaria.

Na verdade, a poética de Ático Vilas-Boas da Mota se acha inteira em (nossas) " Andorinhas", (nossos) "Vaga - lumes", os  insetos se Macaúbas, o doce pais de sua infância. A poesia de Alpondras: travessia de Bucareste é de impar e homogênea beleza. Singela e comovente como as antigas ladainhas que nosso povo cantava (" Litania"' aliás, é singular exemplo dessas qualidades). Estou certo de que Camões, Castro Alves, Pessoa, Bandeira, Drummond teriam subscrito os versos finais da segunda estância do poema "Andorinhas": ... Pedaço de recados
esquecidos no beiral do céu.

E o maravilhoso fecho de " Autor retrato ":
....gotas de saudade,
Caindo - uma a uma -
no oceano do papel!

Parabéns, Ático! Caminhando pelas preciosas Alpondras de sua poesia, vivi inesquecível emoção.

Goiânia, outubro de 2003
                     Ursulino Leão

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